Em sua coluna de hoje, no Estadão, intitulada "Pense num absurdo", a ótima Dora Kramer teve um esquecimento imperdoável. Não citou o absurdo que é Eduardo Campos, presidente do PSB, governador do Pernambuco, candidato à presidência em 2014, criticar Dilma, ajudar a derrubar a MP dos Portos e manter ministérios e cargos de primeiro escalão no governo. O que Aécio e Alckmin estão fazendo é da política. O que Campos está fazendo é o mais puro fisiologismo.
"Pense num absurdo, na Bahia tem precedente", dizia Otávio
Mangabeira, governador do Estado entre 1947 e 1951. Pois hoje, mais de
60 anos depois, podemos sem medo de errar pensar num absurdo e afirmar
que no Brasil tem precedente.O mais recente é oficializado hoje com a posse do vice-governador de
São Paulo, Guilherme Afif Domingos, na Secretaria/Ministério da Micro e
Pequena Empresa servindo ao mesmo tempo a governos do PSDB e do PT, no
atendimento a interesses do PSD, em arranjo nunca antes visto neste
País.
Firmada a jurisprudência, damos mais um passo na direção da - para
evitar um termo chulo - desordem geral. O episódio é rico no tocante à
ausência de critérios.Vejamos a reação dos tucanos: a propósito de "não passar recibo"
decidiram amenizar a reação. O governador Geraldo Alckmin cumprimentou a
presidente Dilma Rousseff pela excelente escolha, o senador Aécio Neves
corroborou os elogios a Afif, alfinetou Dilma criticando seu
"governismo de cooptação" e sobre a manobra do PSD preferiu nada
comentar.Isso a despeito de ter avaliação negativa (para dizer o mínimo) a respeito da atuação política do ex-prefeito Gilberto Kassab.
Quais as intenções por trás desses gestos? No caso de Alckmin a ideia
é não criar confusão com ninguém porque tem uma reeleição a ser
disputada. Tampouco pretende se estressar com o PT porque digamos que
não chorará lágrimas de esguicho se Dilma for reeleita em 2014. O
caminho fica livre para 2018. Uma razão para a resistência da seção paulista em relação à
candidatura presidencial de Aécio Neves que, se vitorioso, concorreria a
novo mandato quatro anos depois.
Já o mineiro não pesou a mão nas críticas porque seu foco é a
oposição ao PT e, além disso, não quer atritos explícitos com o PSD a
fim de não prejudicar a possibilidade de alianças com o partido de
Kassab nos Estados onde precisará de palanques substantivos se levar
adiante a candidatura à Presidência.
Ou seja, as ambições dominam as convicções. E não se diga que os
tucanos sejam os únicos. Mestre na matéria mesmo tem se mostrado o PT.
Cobra fidelidade dos aliados, mas aceita de bom grado, ou por outra,
tira proveito da infidelidade alheia.Exemplo: a ofensiva para desqualificar a figura do governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, perante o eleitorado é chamá-lo de traidor.
Conferir caráter de traição ao desejo dele de construir uma candidatura à
Presidência e tomar um rumo político independente do PT. Campos seria desleal. Mas os petistas não acham que transitam no
terreno da deslealdade quando criam um ministério para levar ao governo
um vice-governador de partido antagônico.
Fazer oposição hoje na concepção do PT é sinônimo de golpismo, uma iniquidade. Mas, quando se trata de robustecer o campo governista, qualquer indignidade é válida. Fazendo uma condenável concessão ao cinismo exacerbado, poder-se-ia
dizer que se a falta de regra é a regra que o vale tudo valha para
todos. Mas depois não reclamem quando a sociedade lhes der as costas,
farta dessa anarquia moral.
Inaceitável é que o PT se considere sujeito passivo das adesões que
recebe, inclusive porque elas se dão mediante o emprego de métodos nem
sempre lícitos ou legítimos de atração. Inconcebível não é mudança de posição, mas a ideia de que ela só
possa ocorrer em sentido único. É certo cooptar velhos inimigos ao custo
do uso do aparelho de Estado, mas é errado que aliados deixem de
concordar com o rumo do governo e as práticas do partido. Nesse cenário se desenvolve o teatro de absurdos para os quais já se fixaram os mais disparatados precedentes.
9 comentários
E o vagabundo adesista vai receber dois salários ao mesmo tempo? Onde que vai "trabalhar" esse vagaba?
ReplyCoronel,
ReplyO Lulla jogou o país na esquizofrenia política.
Nada mais faz sentido. Nem a grande imprensa escapa desta loucura.
Anote ai: - Muita gente decente já perdeu o Norte, a ruptura esta próxima.
JulioK
Eu tava me perguntando que moral o PT terá em 2014 para falar mal do governo do Alckmin, quando ele pegam o vice governador para trabalhar com eles. Mas ele lembrei do Kassab que foi esculhambado pelo PT e foi abanando o rabo para o governo.
ReplyParece que vai virar China do passado: só se pensa em bicicleta no trânsito e votar em partido único!
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ReplyCambada de SEM-VERGONHA !
Só isso.
Vem a calhar, neste tema, o excelente texto de RA sobre o afif (letra mínuscula mesmo), depois da decepção. Vale à pena:
ReplyENTREVISTA DE AFIF É UMA COLEÇÃO DE DESPROPÓSITOS E, NO LIMITE, ACENA PARA A DITADURA DOS SUPOSTOS HOMENS VIRTUOSOS
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/entrevista-de-afif-e-uma-colecao-de-despropositos-e-no-limite-acena-para-a-ditadura-dos-supostos-homens-virtuosos/
Chris/SP
ReplyAbsurdo é receber o Maduro depois do espancamento dos deputados de oposição.
A obrigação de quem patrocina uma Comissão da verdade (?), era de exigir explicações da brutal agressão,no País que tem democracia até demais.. rs, rs....
ReplyMaior absurdo é a propaganda eleitoral do Pt.
Um festival de mentiras.
Aos poucos (?!), todos aqueles com quem pensávamos contar estão aderindo ao que há de pior na política brasileira: o Partido dos Trabalhadores. Afif não chegou a ser cogitado para ditar o programa liberal do PSD? Pois é, ninguém conhece ou dá bola para o programa desse partido, nem se interessa por saber se Afif contribuiu em sua redação. Ditadura à vista! Infelizmente.
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