Os índios por eles mesmos. E o fim da antropologia a serviço da tutela destes brasileiros.

Continua repercutindo a pesquisa Datafolha realizada com os índios brasileiros, que ouviu, de forma inédita, a opinião dos próprios índios sobre a sua vida, os seus sonhos e, principalmente, os seus problemas. Cai por terra o mito de que índio só precisa de mais terra. Mentira desmistificada pela pesquisa. Veja, abaixo, coluna de Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que patrocinou a pesquisa, contra os interesses da FUNAI que, muitas vezes, proibiu a entrada de pesquisadores nas aldeias. Mais abaixo, a matéria publicada pela Folha de São Paulo, com o resumo do levantamento.  

Uma antropologia imóvel

A Funai busca eternizar os povos indígenas como personagens simbólicos da vida simples e primitivos 

Toda antropologia é política. Mas nada justifica que as extensas e profundas informações que essa ciência vem acumulando sobre as diversas formas de organização da sociedade indígena sejam usadas como instrumento de dominação e manipulação. Ainda mais neste Brasil de autores consagrados, nacionais e estrangeiros, com seus fartos estudos sobre a vida e os costumes de nossos índios e suas etnias.

Nossos tupis-guaranis, por exemplo, são estudados há tanto tempo quanto os astecas e os incas, mas a ilusão de que eles, em seus sonhos e seus desejos, estão parados no tempo não resiste a meia hora de conversa com qualquer um dos seus descendentes atuais.

Quem observar com atenção o Censo Demográfico de 2010 percebe que não se sustenta a opinião única sobre os índios, sua distribuição espacial ou modo de viver. Até mesmo estudos e levantamentos mais antigos já revelavam que "povos da floresta" -pescadores, nômades e coletores- não são, há muitos anos, a cara e o coração predominante dos índios brasileiros dos nossos dias.

Foi o que comprovou recente pesquisa encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ao Datafolha, revelando a antropologia imóvel praticada pela Funai. A instituição teoricamente encarregada de compreender os povos indígenas para poder protegê-los busca eternizar os índios como personagens simbólicos da vida simples e primitiva.

Pensando em seu lugar, a Funai tenta manter o controle sobre eles, fingindo não ver que a maioria assiste televisão e tem geladeira e fogão a gás, embora continue morrendo de diarreia porque seus tutores não lhes ensinaram que a água de beber deve ser fervida.

Há tempos o isolamento em áreas remotas da floresta amazônica, salvo raríssimas exceções, não corresponde mais a uma necessidade vital dos índios e das suas diversas etnias. Ao contrário, esse status aparentemente romântico serve, na verdade, para justificar o contrato de tutela que ainda os mantém como brasileiros pobres.

A Constituição de 1988 determinou que "são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas e tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar os seus bens". Com a opção pelo verbo "ocupar" no presente do indicativo, o constituinte estava seguro de que as terras tradicionalmente ocupadas eram uma parte da justiça. Mas, a partir daí, reduzir o índio à terra é o mesmo que continuar a querer e imaginá-lo nu.

Quando a Funai e o Ministério Público viram as costas a essa determinação constitucional -não demarcando ou demarcando além do que era ocupado até 5 de outubro de 1988-, não somente aumentam o conflito nas áreas, como também criam falsas expectativas para toda a sociedade.

Um verdadeiro discurso do falso enraizamento é que serve para produzir mais poder político para as instituições que se sentem "proprietárias" dos históricos índios brasileiros. E seguem indiferentes à sorte dos atuais brasileiros índios. 

KÁTIA ABREU, 50, senadora (PSD/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados nesta coluna.

A matéria da Folha sobre a pesquisa

Os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano. Televisão, DVD, geladeira, fogão a gás e celulares são bens de consumo que já foram incorporados à rotina de muitas aldeias. A formação universitária é um sonho da maioria deles. Pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela esse perfil. Entre os dias 7 de junho e 11 de julho, foram realizadas 1.222 entrevistas, em 32 aldeias com cem habitantes ou mais, em todas as regiões do país. 


Segundo a pesquisa, 63% dos índios têm televisão, 37% têm aparelho de DVD e 51%, geladeira, 66% usam o próprio fogão a gás e 36% já ligam do próprio celular. Só 11% dos índios, no entanto, têm acesso à internet e apenas 6% são donos de um computador. O rádio é usado por 40% dos entrevistados. Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), "é evidente que essa novidade produz mudanças, mas isso não significa a instalação de um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena". 

De todo modo, os números ainda estão longe dos percentuais de acesso a bens de consumo da média da população. No Brasil como um todo, segundo o IBGE, 98% têm televisão; 82%, aparelho de DVD; e 79% têm celular. A pesquisa teve ainda o intuito de avaliar as condições de vida dos indígenas. Questionados sobre o principal problema enfrentado no Brasil, 29% dos entrevistados apontaram as dificuldades de acesso à saúde. 

A situação territorial ficou em segundo lugar (24%), seguida da discriminação (16%), do acesso à educação (12%) e do emprego (9%). Em relação ao principal problema enfrentado na vida pessoal, a saúde permaneceu em primeiro lugar para 30%. O emprego apareceu em segundo, com 16%, seguido de saneamento (16%). A questão territorial, nesse caso, desaparece. A pesquisa mostra que o aumento de fontes de informação tem influenciado a vida familiar dos índios: 55% conhecem e 32% usam métodos anticoncepcionais como camisinha e pílula. Mais de 80% ouviram falar da Aids. 

A maioria dos índios (67%) gostaria de ter uma formação universitária. Apesar de ser considerado muito importante para 79% dos entrevistados, o banheiro em casa só existe para 18% deles. Algumas características das aldeias: 69% têm postos de saúde; 88%, escolas; 59%, igrejas; 19%, mercados; e 6%, farmácias.



7 comentários

são os "amigos do povo" querendo confinar os índios a vida primitiva e impedindo-os de se integrar a modernidade e desfrutar dos avanços que a realidade oferece...

eh uma turma semelhante aquelas que não deixam governos agirem para melhorar a vida de viciados em drogas pesadas...

cidadão, sempre que encontrar um "amigo do povo" pela frente, desconfie...e muito!

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Mais uma vez, Kátia Abreu se situa com propriedade. Realmente, é um farol na escuridão!

Manter os índios na presente situação não interessa à sociedade brasileira nem aos próprios índios. O único a lucrar com isso é a própria Funai, que precisa manter os índios em atraso para justificar sua própria existência e status quo.

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ORA! CRIADA a CORPORAÇÃO, ela tende a se eternizar.

Sem INDIO a FUNAI se extingue;

Sem demônio as igrejas deixarão de existir;

Logo, ......

Saudações do Extremo Sul.



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A questão indígena é a confiança em quem trata do assunto, a opinião plausível, a palavra dita.Até antes então, todos que se meteram neste assunto nacional eram pessoas com excesso de "qualificação profissional" ou carentes de moral e costume pessoal. Os dias dessa senhora, vividos no batente de assuntos da terra, apresenta com simplicidade a solução para a questão indígena: Moradias com redes de agua e esgoto tratado, escolas com professores normais sem os vicios do mec e entendidos de ultima hora, trabalho condígno com sua capacidade de produção, salario justo e atraente, médicos bem pagos nas aldeias de tijolos, acesso ao crédito bancário escambau de bico para sua dignidade humana.

abraços senadora katia. estou com você e não abro!

pau na maquina!

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Coronel, na Raposa Serra do Sol em RR os "não índios" têm 70% de índios aculturados que moram em cidades de branco e foram expulsos por " terem cheiro de branco " ou seja serem já civilizados d os outros perderam seus empregos e o tráfico de cachaça agora manda na reserva, não existem mais os médicos índios e comerciantes e até as cidades terão que ser demolidas, entre elas Pacaraima, o único acesso é por Santa Maria do Uairán uma cidade venezuelana que dista a 500 metros de Pacaraima, com pontos conurbados, de lá vem gasolina e coisas como comida, médicos que não atendem no Brasil, os índios tem que atravessar o meio quilometro que separa as cidades. A moeda lá é o BOLÍVAR FORTE mas as duas cidades são multilingues ( Castelhano, português e línguas de índios ).
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A CIDADE BRASILEIRA DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA é 85% indígena e não querem reserva no local, línguas de índios são oficiais na cidade ao lado do português. Não é fronteira.

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O que seria dos esquerdistas, centro esquerdistas e centristas se as estatais fossem privatizadas e o povo não fosse mais miserável ou podre? Eles iriam prometer o que para uma classe média, classe média alta, ricos e para um país desenvolvido? O que seria do DNOCs se o Nordeste fosse estruturado e o problema da seca resolvida? O que seria da Funai se os índios já tivessem uma vida normalizada e adaptada a vida moderna? O que seria dessa indústria de coitadismo se os coitadinhos já tivessem independência? Por isso que país de primeiro mundo a cultura é de CUMPRIREM SEUS DEVERES e coitadismo é demagogia para adestrar o povo. Quanto mais eu vivo mais eu tenho aversão a esquerda, estatismo exagerado e dessa cultura brasileira de coitadinho!

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KATIA ABREU PRESIDENTE 2014.

É a única em que voto em 2014 para presidente. Fora ela, só o Serra, se ele vier como candidato.

Não voto no PT, não voto no Aécio, não voto em Marina.

Anulo meu voto se não vier KATIA ou Serra.

KATIA ABREU PRESIDENTE 2014.

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